quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Na expansão do ensino técnico, maior desafio é manter a qualidade

Em expansão no Brasil depois de décadas de atraso, o ensino profissionalizante vive entre extremos: tem desde centros de excelência, disputados em seus estados, até problemas tão básicos quanto falta de professores e laboratórios.

Em 93 anos, de 1909 a 2002, o país construiu apenas 140 escolas profissionalizantes. O projeto de expansão começou, ainda timidamente, segundo especialistas, no governo Lula, quando 214 unidades foram inauguradas. Agora, na gestão de Dilma Rousseff, a meta é chegar a 2014 com 562 unidades, apenas da rede federal, espalhadas pelo país, além dos 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Esse aumento na oferta de vagas permitirá, segundo a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), do Ministério da Educação (MEC), matricular 600 mil alunos na rede técnica e profissionalizante.

A expansão faz parte do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), criado para democratizar a oferta dos cursos e ampliar também a oferta nas redes públicas - estaduais e municipais - e no Sistema S (Sesi, Senai, Sesc e Senac). Segundo Francisco Cordão, educador há mais de 40 anos e presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE), "o País precisa urgentemente dessa mão de obra". "A educação técnica no Brasil nunca foi valorizada. Mas, hoje, o ensino médio não atende à aspiração de grande parte da juventude, que não está voltada para a vida universitária. No Brasil, o ensino médio está cada vez mais ligado ao vestibular, ao Enem, e isso não atinge 20% da população que frequenta o curso. Existe uma grande parte que quer ser preparada para o mercado de trabalho."

País tem atraso de 50 anos, diz especialista - No entanto, de acordo com Cordão, não basta expandir a oferta oferecendo mais cursos, é preciso criar escolas com laboratórios específicos e fazer com que os estudantes dominem "conhecimentos e valores culturais de maneira integrada". "O CNE define agora as diretrizes para a formar a educação profissionalizante. O professor, por exemplo, não basta que seja licenciado, tem que dominar a prática. Esse é um grande desafio, e hoje não temos número suficiente de professores, não nos preparamos. Calculo que se dobrarmos o número, ainda assim será insuficiente."

"O País descuidou do ensino técnico, e hoje temos pelo menos 50 anos de atraso. Essa expansão acelerada da escola técnica e tecnológica de ensino médio, de pós-médio e universitário é importante. O país não pode mais ficar esperando as condições ideais, tem que correr atrás da formação docente, que ainda recebe atenção aquém do que deveria. E educação, acredito, se resolve com formação docente qualificada", diz Fernando Becker, professor da Faculdade de Educação da UFRS, lembrando que, para que a expansão dê certo, é preciso ainda boa infraestrutura. "As escolas devem ter laboratórios e menos aulas expositivas, com alunos decorando teoria. Devem fazer com que os estudantes possam participar de oficinas, de projetos, devem habilitar para uma profissão."

Aprovado em 2009 para o curso de Farmácia do campus Realengo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Gustavo Simão já teve que ir para a unidade de Nilópolis para ter aula. Isso porque, em Realengo, não tinha sala suficiente. Segundo o MEC, a construção de uma escola técnica custa R$ 7,2 milhões. "Às vezes, a aula tem que ser no campus do Maracanã. Além disso, não há laboratório de Farmácia em funcionamento atualmente", conta Simão.

Mas falta de laboratório não é privilégio de quem cursa Farmácia. O problema, segundo as alunas Nathalia Oliveira e Élida Miranda, se repete no curso de Fisioterapia. "Todos os laboratórios estão sendo usados como sala de aula, pois desde 2009 nenhuma turma se formou. Só entram alunos. A gente já teve que ter aula do lado de fora, no sol, e no refeitório. A biblioteca também é improvisada numa sala de aula", diz Nathalia.

Além da falta de laboratórios, os alunos enfrentaram a infraestrutura precária da unidade. "Quando entrei, em 2009, as salas não tinham cortina, persiana, ventilador ou aparelho de ar-condicionado. O teto é de telhas, e o que mais tinha era aluno passando mal por conta do calor", lembra Eric Borges, aluno de Farmácia.

Na unidade, a sala de informática também serve como sala de aula. Mas o pior, segundo os alunos, é a aula inaugural. Para todos os cursos, ela acontece no pátio da Igreja Nossa Senhora da Conceição, próxima ao campus. O auditório, no qual as aulas inaugurais deveriam ocorrer, ainda não foi construído.

Fincado na periferia de Maceió, o centro profissionalizante Aurélio Buarque de Holanda Ferreira foi construído para funcionar no conjunto Medeiros Neto. No entanto, a unidade, com capacidade para receber dois mil alunos em cursos como o técnico de informática, está abandonada há dois anos, por problemas burocráticos.

O prédio já foi arrombado várias vezes, e os ladrões levaram parte dos computadores. "Esse lugar é um perigo. Mesmo que ele seja inaugurado, quem vai estudar aí à noite? O pessoal tem medo", diz Pedro dos Santos, de 19 anos, que gostaria de ter aulas de informática.

Segundo a assessoria de imprensa, o secretário de Educação e Esportes, Adriano Soares, nega o abandono e diz que o centro deve ser inaugurado ainda este mês. Aberto, ele será o segundo centro profissionalizante de Alagoas, mantido pelo governo estadual. Hoje, o único que funciona fica em Coruripe, no litoral Sul do estado.

Ensino de excelência em Pernambuco - Marcado por problemas como déficit na aprendizagem, evasão escolar e falta de professores, o ensino técnico também oferece ilhas de excelência. A antiga Escola Técnica Federal de Pernambuco, transformada em Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, teve suas 1.920 vagas disputadas este ano por 17 mil alunos. E a Escola Técnica Estadual Agamenon Magalhães selecionou 1.830 entre 10 mil que disputaram uma chance em seus oito cursos.

A corrida não é para menos. O IFPE está com o quadro de 398 professores completo. Com 102 anos de funcionamento e transformado em IFPE no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ganhou com a maior autonomia financeira, segundo o diretor Moacir Martins Machado. Equipou-se e tem hoje cem laboratórios que servem a 16 cursos. Dois estão em fase de implantação: automação industrial (de nível superior) e mecânica automotiva (especialização técnica), ambos voltados para polos industriais que estão sendo implantados no litoral Sul (complexo industrial portuário de Suape) e litoral Norte (que se prepara para receber a Fiat). Aos 19 anos, Wolney Júlio Gonçalves se classificou para fazer o ensino médio junto ao técnico de química.

"O diferencial de terminar o ensino médio com formação profissional é ganhar logo o mercado de trabalho. Se eu fizesse o ensino médio convencional e fosse depender de universidade para me inserir, ia perder de dois a três anos pelo menos. Com o integrado, essa ponte fica mais curta."

O IFPE ensina não só tecnologia, mas também empreendedorismo. Uma das iniciativas é a Aromice, uma pequena SA/E (Sociedade anônima Estudantil), na qual os alunos aprendem todas as etapas na implantação de uma indústria. Para manter a empresa, o IFPE conta com ajuda de grandes corporações - como Santander e Gerdau - e de uma organização não governamental secular e internacional, a Júnior Achievement.

A reitoria do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Recife administra nove campi. De acordo com o governador Eduardo Campos (PSB), somando-se as estaduais e federais, Pernambuco deverá ter 100 mil alunos em escolas técnicas em 2014. Uma das mais tradicionais é a Escola Técnica Agamenon Magalhães, fundada há 83 anos.

O projeto Edificando Ideias - que terminou por produzir tijolo que usa fibra de coco - rendeu o Prêmio Nacional do educador, conferido pela Microsoft. "Nossos cursos são voltados para a demanda. O de design cresceu com o aumento do poder de compra da nova classe média", diz Sandra Domitilia de Carvalho, diretora da escola, que conta que no curso de edificações, os adolescentes mal entram no 1º módulo e já são chamados para estágios.

(O Globo)

2 comentários:

Anônimo disse...

EU ACREDITO ...
... que Alunos e Professores se completam.

... que Professores e Alunos são os axiomas da educação.

... que o Aluno quer, um dia, ser como seu Professor.

... que o Professor quer, que um dia, seus Alunos tenham todo o sucesso do mundo.

Quando me recordo do tempo em que eu era Aluno (sempre de escola estadual), percebo o quanto sou grato aos excelentes Mestres que tive.

Quando me encontro com meus primeiros alunos (do ano de 2004), renovo minhas forças ao perceber que eles estão no caminho certo.

E quando estes alunos me dizem: "- Obrigado!"
Acredito que estou realizado profissionalmente.

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Só reforçando, não gosto dessa GREVE, particularmente, não gostaria de estar em GREVE, mas sei que, no passado, foi por causa de várias GREVES como essa, que hoje temos conquistas como a expansão dos IF's.
Sei que ainda falta muito para conquistarmos. Contudo, tenho convicção que a EDUCAÇÃO precisa da união dos Professores e Alunos.

ASS. Professor Luciano Nóbrega

Jailma Lopes disse...

Olá Luciano,

Podemos postar esse seu poeminha?
Bastante expressivo ele!

Jailma.