sábado, 15 de outubro de 2011

Um pouco de inspiração para o árduo ofício de professor...

Adoráveis professores....

Por Rosangêla

Como professora que sou, eu poderia passar o dia de hoje reclamando de tudo, dos baixos salários, da falta de condições da educação brasileira, da falta de respeito pela profissão mais importante do mundo, da preguiça dos alunos, etc-etc-etc, mas uma vez que tudo isso é a verdade mais do que absoluta, vou fazer algo diferente e mostrar que, de uma forma ou de outra, a sétima arte entende bem melhor o que é ser um professor do que as nossas próprias instituições.

Se a ficção imita a realidade é algo ainda a se discutir, mas que ela cria professores absurdamente reais é inegável. Vou mostrar-lhes os meus dez professores mais queridos do cinema e comentar o pé que cada um deles têm com essa dita e nem sempre bem amada realidade.

1. Mark Thackeray (Sidney Portier, em Ao Mestre Com Carinho): Em 1967, quando o filme foi lançado, imaginem o que era um professor negro inserido numa sociedade onde a diversidade era um grande mito? Thackeray enfrentou todos os preconceitos da época, numa escola elitista, em meio a alunos alienados e uma admistração que desacreditava completamente no jovem dos anos 60 (geralmente considerado problemático, drogado, desmotivado). É o meu professor fílmico mais amado e estará no topo da minha lista de adoráveis para sempre.

2. Katharine Watson (Julia Roberts, em O Sorriso de Monalisa): Ms Watson tem os ingredientes essenciais da professora criativa: é meiga, inteligente, revolucionária, cáustica. Convivendo com os ditames da rígida educação para moças, nos anos 50, ela vê-se dividida entre duas situações extremas: educar para a vida ou educar para o lar. Logo percebe que as alunas vão para a escola para terem a chance de encontrar um bom marido e não propriamente pela aprendizagem libertadora. A educação das mulheres é mecânica e suas vontades são tolhidas. Após entrar em conflito com as alunas e a instituição, Katharine decide deixar a escola, mas não sem antes fazer com que as meninas enxerguem que elas podem ir além do que acham que podem. Amo-a por ser principalmente uma professora visionária e firme em suas convicções.

3. Louanne Johnson(Michelle Pfeiffer, em Mentes Perigosas): Após abandonar a carreira de oficial da Marinha, Louanne decide realizar o grande sonho de se tornar professora de literatura. Anos mais tarde, consegue uma turma que a escola chama de “turma especial”, mas não faz ideia do porquê. Não dura mais do que uma aula para a jovem professora perceber que tem a turma mais problemática da escola. Louanne entra então em um contexto onde precisa enfrentar todas as adversidades, não apenas educacionais, e sim de vida e sobrevivência. Esta é uma professora especial porque não lida somente com a problemática relacionada aos alunos, mas com o grande paradoxo que é a instituição educacional como um todo.

4. Clémente Mathieu(Gérard Jugnot, em A Voz do Coração): Um mestre sem igual, Clémente Mathieu é também um músico decadente que precisa de emprego. Enviado a um orfanato no meio do nada para lecionar, logo descobre que seus alunos, meninos com severos problemas de conduta, podem ter uma forte inclinação para a música. Modificando totalmente o comportamento dos alunos, Clémente passa a ser a pessoa mais importante em suas vidas. Amo este professor por seu olhar lírico sobre a educação, por saber que é preciso levar o aprendiz a enxergar o que de mais valioso existe dentro de si.

5. Erin Gruwell (Hilary Swank, em Escritores da Liberdade): É a jovem professora de uma escola elitista obrigada a oferecer uma cota para alunos marginalizados. Erin é então designada para essa turma de alunos em conflito com suas próprias vidas e com a sociedade. Logo descobre que ensinar significa muito mais do que uma escola bonita e tarefas de casa. Quando percebe que seus alunos não conhecem nada de literatura, porque é vetado a eles o acesso aos livros da bilbiioteca da escola, ela mesma compra os livros e os encoraja a lerem e escreverem os próprios diários. O conjunto dos melhores textos são publicados no então famoso “Escritores da Liberdade”, livro que deu origem ao roteiro deste filme. Minha admiração por Erin encontra-se no modo como ela acredita na mudança do ser humano através da educação, seja ele pobre ou rico, de qualquer cultura, país, raça ou língua. Esta professora é um exemplo de crença no indivíduo e no poder transformador da literatura.

6. John Keating (Robin Williams, em Sociedade dos Poetas Mortos): Ele é o ex-aluno que se torna professor da Welton Academy, um colégio tradicionalíssimo para rapazes, no ano de 1959. Contrariando os métodos ortodoxos da educação que recebera no colégio, John desenvolve com seus alunos uma metodologia dinâmica e inovadora do ensino da literatura. Inspirados pelo novo mestre, os alunos revigoram a “Sociedade dos Poetas Mortos”, sem no entanto entenderem seu verdadeiro propósito. Eis um professor que amo e que vejo em alguns dos professores que já tive, por falar de literatura como literatura, uma célula viva que encontra refúgio dentro de cada um de nós, e não como um texto apenas, com um propósito e um fim. Lindo!

7. Dumbledore (Richard Harris/Michael Gambon, emHarry Potter): Não pode haver nome ficcional mais acadêmico e significativo do que Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore. A gente pensa num professor-doutor e lá vem logo ele à cabeça, pois tem o glamour que o título exige, não é mesmo? (rsrsrsrs..) Brincadeiras à parte, Professor Albus Dumbledore ensina Arte da Transformação, na renomada Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts. É respeitado pelo bom caráter, pela mente rebuscada, altamente inteligente, rápida e perspicaz, e pelo modo humano como trata os alunos. Lidera a Ordem da Fênix contra os desmandos do Lord Voldemort, implementando em Hogwarts a mais diversa quantidade de saberes mágicos, na tentativa de por fim às ameaças do bruxo contra Harry Potter e seus amigos. Dumbledore é adorável pela seriedade, pela amplitude de seus conhecimentos, por ser um sábio que não impõe nada, deixando que os mais jovens descubram, através das experiências, quais são seus verdadeiros direitos e deveres, e qual a implicação de suas atitudes na vida em grupo.

8. Rainer Wenger (Jürgen Vogel, em A Onda): O inovador professor de um colégio de ensino médio, super fã dos Ramones e engajado nos estudos de globalização, decide desenvolver um projeto com seus alunos, a fim de fazê-los entender o que foi o regime totalitário. Baseado em um experimento pedagógico real,A Onda é o exemplo prático de como os professores, no exercício convicto de sua profissão, têm o poder de criar o tipo de sociedade que desejarem. O que me impressiona em Wenger é a sua capacidade de persuasão, sua eloquência, sua armadilha desafiadora. Não fosse seu projeto ter-se voltado contra ele próprio, seria o exemplo de professor que toda educação precisa: o voraz.

9. Miss Stubbs (Olivia Williams, em Educação): Apesar de ser um personagem secundário no drama baseado nas memórias da escritora Lynn Barber, o papel da jovem professora é fundamental na mudança da perspectiva de vida da jovem Jenny Millar. Chateada com a reclamação do pai pelos gastos com sua rígida educação, a moça decide sucumbir aos encantos de um homem mais velho, que a leva a conhecer um mundo divertido e atraente, completamente diferente dos rigores, preconceitos e exigências da escola. Vendo que Jenny está pouco a pouco entrando num mundo de ilusões, Miss Stubbs leva-a a reconhecer que uma educação primorosa pode lhe proporcionar um bem sem igual: sua própria liberdade. A professora é o exemplo da valorização do trabalho feminino e o retrato de como a educação pode ser transformadora.

10. George Falconer (Colin Firth, em A Single Man): A educação não é omotif principal do filme baseado no romance homônimo de Christopher Isherwood, mas ser professor é uma parcela muito especial na caracterização deste personagem. George é um professor inglês radicado em Los Angeles que, após um evento trágico, entra em depressão. Pouco a pouco sua vida se torna uma sucessão de acontecimentos vazios, uma terrível rotina, sem emoções e sem sentido. Seu maior conflito é ter que desempenhar um papel diferente dentro e fora de sua própria lógica, viver sob o julgo dos padrões de uma sociedade que nem ao menos é a sua. O que chama a minha atenção neste papel é o fato de que a sobrevivência nem sempre está relacionada ao que gostamos, precisamos e/ou queremos.

Bonus: William Forrester(Sean Connery, emEncontrando Forrester): No filme, ele não é um professor de profissão, é na verdade um escritor, mas sua atenção para com o jovem negro que quer se tornar um escritor é impressionante. William Forrester é um escritor recluso que publicou um único romance, sucesso de público e crítica, que o colocou na lista dos melhores escritores de todos os tempos. Certa tarde, importunado pelos rapazes da rua, curiosos em saber como vivia aquela pessoa estranha, encontra Jamal Wallace, um rapaz negro, do Bronx, exímio jogador de basquete, que tem uma grande habilidade literária. Quando Jamal recebe a oferta de uma bolsa de estudos de um colégio elitista de Manhattan, percebe que tem uma chance ímpar de se tornar escritor. Forrester decide então ajudar o rapaz a mostrar que é muito mais do que um jogador de basquete.

Disponível em: http://rosangelaneres.com/2011/10/15/adoraveis-professores/

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